Na edição deste ano da Web Summit, o Centre Stage recebeu mais uma intervenção marcante de Brad Smith, presidente da Microsoft, que trouxe ao palco uma reflexão profunda sobre o papel da tecnologia na sociedade e sobre o futuro da inteligência artificial. O título da palestra não podia ser mais apropriado: No Ordinary Time.
Smith começou por contextualizar o momento em que vivemos, lembrando que dentro de 67 dias, não apenas entraremos em 2026, mas encerraremos o primeiro quarto de século do século XXI. Um período marcado por acontecimentos que moldaram o mundo – do 11 de setembro às guerras recentes, passando pelas crises climáticas.
Comparando com os ciclos anteriores do século XX, Smith recordou pandemias, guerras mundiais e crises económicas, sublinhando que cada geração enfrenta os seus próprios desafios, mas também testemunha avanços tecnológicos que mudam radicalmente a vida das pessoas.

O ponto central da palestra foi, claro, a inteligência artificial generativa é a tecnologia que mais rapidamente chegou a mil milhões de pessoas. Mais veloz do que qualquer inovação anterior. Contudo, ao mesmo tempo, Smith alertou para o risco de exclusão, revelando que milhões continuam sem acesso a eletricidade, internet ou competências digitais.
Daí surge a ideia de uma nova divisão global – os “AI haves” e os “AI have-nots”. Uma realidade que não se limita a países, mas também a comunidades urbanas e rurais, onde a adoção da AI é até 50% mais rápida nas cidades.
Para enfrentar este desafio, Brad Smith defendeu três pilares fundamentais:
- Tecnologia: não basta infraestrutura, é preciso estimular a procura com aplicações que resolvam problemas reais.
- Talento: sem competências, não há difusão da AI. A Microsoft lançou o programa Elevate e comprometeu-se a investir 4 mil milhões de dólares em formação até 2030.
- Confiança: talvez o mais importante. A confiança nasce do respeito pelas leis locais, pelos valores culturais e pela privacidade.
No final, deixou uma questão provocadora: queremos máquinas que sejam mais inteligentes do que as pessoas, ou máquinas que ajudem as pessoas a serem mais inteligentes?

Para Brad Smith, o momento é agora. Antes que a tecnologia responda por nós, devemos decidir como queremos que a AI seja usada. Isto é, para criar melhores empregos, para promover inclusão e para ajudar sociedades a prosperar.
Questionado muitas vezes sobre se é otimista ou pessimista, Smith respondeu com pragmatismo dizendo que não importa. O que importa é sermos determinados a pensar de forma ampla, a agir com ambição e a provar que a AI pode beneficiar os muitos e não apenas os poucos.